6 de abril de 2011

NÃO EXISTE MEIO TERMO PARA ACESSIBILIDADE

SEM MEIO TERMO

Existem algumas coisas que não possuem meio termo. Aprovação em um vestibular, por exemplo. Não é possível que um candidato tenha sido mais ou menos aprovado. Ou seu nome está na lista dos aprovados, ou não está.

A acessibilidade também não tem meio termo. Ou algo é acessível, ou não é.

Por definição, a acessibilidade pressupõe a garantia de condições para que todos tenham pleno acesso a algum bem ou a algum lugar. Há, portanto, dois critérios contemplados nesse conceito. Ninguém pode estar excluído do acesso, e este acesso precisa ser pleno, isto é, irrestrito e incondicional. Algo só é verdadeiramente acessível, se obedecer a estes dois critérios.

Em nosso dia-a-dia, nos deparamos, infelizmente, com inúmeros exemplos em que se tenta aplicar uma espécie de “meia acessibilidade”:

Um determinado restaurante possui cardápio em Braille, mas este exemplar foi produzido há quinze anos, e, em todo esse tempo, nunca foi atualizado. Novos pratos foram acrescentados ao menu, os preços das refeições já foram várias vezes alterados, mas o cardápio em Braille continua o mesmo.

Um determinado produto possui, em sua embalagem, rótulo em Braille, mas esta embalagem não contém muitas das informações impressas no rótulo em tinta. O consumidor que tem deficiência visual não pode ler, por exemplo, a data de validade do produto, nem os ingredientes que o compõe.

Um determinado estabelecimento conta com uma rampa em sua entrada de acesso, mas ela é íngreme demais, de modo que seja impossível a subida de uma cadeira-de-rodas. Após algumas tentativas, a maioria dos cadeirantes desistem de subir a rampa, pois a tarefa é realmente ingrata.

Um programa de televisão possui o recurso de interpretação em LIBRAS (Linguagem brasileira de sinais), mas não possui audiodescrição, e isso faz com que os cegos percam muitas informações nele veiculadas. Os telespectadores cegos ficam excluídos da possibilidade de compreenderem as imagens exibidas durante o programa, e, conseqüentemente, não acompanham grande parte do seu conteúdo.

Uma determinada empresa se propõe a contratar pessoas com deficiências, mas restringe, no processo de recrutamento, os tipos de deficiências que deseja contemplar. Ela busca, em primeiro lugar, pessoas com deficiências físicas, (preferencialmente com aquelas deficiências que a organização considere como “leves”); em segundo lugar, busca pessoas com deficiência auditiva; em terceiro, pessoas com deficiência visual; e, por último, pessoas com deficiência intelectual.

Estes e diversos outros exemplos são casos em que a acessibilidade é posta mais ou menos em prática, e, por isso, conceitualmente, ela não acontece.

Assim como, pior do que não saber, é saber pela metade, ter algo mais ou menos acessível, muitas vezes, é pior do que não tê-lo.

Acessibilidade é portanto um conceito radical, no sentido de que só se aplica, se sua raiz for alcançada. Esta raiz constitui uma concepção clara e consistente sobre o tema. Não se pratica a acessibilidade por força de alguma lei ou decreto, mas sim, em função de uma atitude que, em sua raiz, seja coerente.

Como se pode ver, a acessibilidade traz consigo muitas exigências, porque ela realmente abala as estruturas. Analogamente, ocorre um processo semelhante ao de uma reação química. Nesse tipo de reação, os átomos precisam se rearranjar para que se chegue ao produto final, e este produto, por sua vez, tem uma estrutura diferente dos reagentes iniciais. Se esse rearranjo não aconteceu, a reação de fato não existiu.

Acessibilidade é assim: ou existe de fato, ou não existe.

Fonte: Cosmo Online
 
;